Ιoannis Ikonomou, tradutor que já estudou mais de 50 línguas, dá dicas de como aprender idiomas:
Ver televisão, fazer amizades e não ter medo de errar.
Quando era menino, o grego Ιoannis Ikonomou ficava encantado ao escutar estrangeiros conversando na turística ilha de Creta, onde costumava passar as férias. O encantamento virou quase uma obsessão por aprender idiomas e hoje, aos 53 anos, ele fala mais de 30 línguas – entre elas português, fluentemente – e não parece ter a intenção de parar de aprender. O segredo? Segundo ele, é se apaixonar pela cultura do país e encarar o domínio de idiomas como uma ponte para se aproximar das pessoas.
“Sou muito curioso. Quando tinha três, quatro, cinco anos eu escutava com muita curiosidade os turistas em Creta. Para mim, eles falavam apenas sons sem nenhum sentido. Aos seis, sete anos, eu comecei estudando inglês, como todo menino na Grécia. De repente, aconteceu uma maravilha na minha vida: eu comecei a entender que os sons tinham sentido”, lembra.
“Entendia coisas muito simples, como ‘vamos naquele restaurante’ ou ‘que calor’, mas para mim foi uma revelação. Isso me entusiasmou e quis entender mais e mais”, conta. Realmente empolgado, o menino não parou mais de estudar idiomas.
Um ano depois, de novo de férias em Creta, ele se lançou em seu segundo desafio: alemão. “No começo para mim, era uma língua muito difícil. Meus pais sabiam inglês e podiam me ajudar, mas não sabiam nada de alemão. Não foi fácil, mas outra maravilha aconteceu: consegui entender mais do que diziam os turistas”, constatou.
“Foi a confirmação de que as línguas abrem caminhos para o entendimento entre seres humanos tão diferentes, é uma ponte entre civilizações, culturas, países. Senti que não podia parar e queria aprender mais e mais”.
Os pais, uma professora e um jurista, não se preocupavam com o comportamento recluso do filho. “Eles liam bastante e sempre me incentivavam a estudar línguas, mas sem nunca me pressionar.”
Clássicos em russo
Por volta dos 12 anos, Ιoannis teve contato com a cultura russa pela televisão e estabeleceu um novo desafio: ler os clássicos dos russos Dostoievski e Tolstoi na língua original. Os pais encontraram uma professora russa e pronto:
“Sabia que não era fácil, mas acabei por ler o livro ‘Anna Karienina’, de 814 páginas. Eu me lembro até hoje desse número. Demorou muitos meses. Hoje seria muito mais fácil, mas foi uma vitória”, afirmou.
Satisfeito com o resultado dos estudos, ele escolheu seu próximo alvo: aprender turco. Rivais históricos dos gregos, os turcos não mantinham escolas de idioma no país. Os seus pais encontraram uma professora para ele durante uma manifestação com refugiados políticos turcos. Mais um idioma para a conta de Ιoannis.
Mais de 50 línguas
Pouco a pouco, ele foi ampliando a lista. Além de grego, sua língua materna, e inglês, alemão, italiano, russo e turco, ele fala também: português, francês, árabe, hindi e urdu, hebraico, búlgaro, espanhol, holandês, norueguês, sérvio e croata, finlandês, polonês, sueco, persa, curdo, islandês, romeno, húngaro, tcheco, eslovaco, esloveno, macedônio, amárico (idioma oficial da Etiópia), japonês, lituano e mandarim. Conseguiu contar?
Com tanto talento para o aprendizado de línguas, ele se dedicou aos estudos de linguística em Tessalônica (na Grécia). Depois, seguiu para os Estados Unidos, onde fez um mestrado em sânscrito, na Universidade de Columbia, e estudos de linguística indo-europeia comparativa em Harvard.

Ιoannis deu prosseguimento em seus estudos em Viena, na Áustria, e também expandiu os estudos para várias línguas mortas, como o egípcio antigo, copta, persa antigo, pahlavi e outras línguas antigas iranianas, árabe clássico, grego e latim, eslavo eclesiástico, assírio, babilônico, hitita, gótico, avéstico, pali, turco otomano e armênio clássico.
Como tradutor profissional da Comissão Europeia, atualmente ele traduz para o grego e para o inglês. “Na maioria são documentos da União Europeia, sem poesia. Não tem nada de literatura, que eu adoro, mas faço um tributo à Europa unida, sou internacionalista, europeísta”.
‘Transformar vida em literatura‘
Ιoannis tem um objetivo nobre nesta busca incessante pelo conhecimento de idiomas.
“Eu quero transformar minha vida em literatura. Não estudo línguas para aprender verbos irregulares, ficar no quarto e no meu computador. Eu aprendo para procurar experiências, aventuras, para enriquecer a vida, me fazer mais humano”, afirma.
“Eu sou um lusófono fanático”, garante. Expressando-se de maneira clara e tropeçando em pouquíssimas palavras, ele passa mesmo essa impressão.
“Não sou um turista convencional. Não gosto de ir onde a maioria dos turistas vai. Eu gosto de passear na orla, mas eu entrei também nas favelas, no Cantagalo. Fui a um ensaio da Mangueira. Fiz amizades. Eu me sentia tão feliz no Rio”, afirmou.
“Conheço muitas pessoas que aprendem francês ou russo e vão viajar só para ir a museus, óperas. Para mim, é diferente. No Rio, eu passei dias em uma favela de Duque de Caxias e isso me fez muito mais humano do que se eu tivesse visitado mil museus de arte moderna. Convivi com pessoas muito ricas e muito pobres”.
Para manter o contato com a língua portuguesa, ele se dedica à literatura. “Adoro Jorge Amado. Li quase todos os livros dele. Também vejo muitos filmes brasileiros modernos, porque me dá muita nostalgia de momentos mágicos que eu vivi. Tenho uma relação muito forte, eu me sinto um pouco brasileiro.”
Ιoannis afirma que consegue ter “mais ou menos” o mesmo domínio de todas as línguas. “Mas, às vezes, passo meses sem contato, preciso praticar, viajar para lá. Hoje ficar em contato com as línguas não é tão difícil por causa da internet”.
Dicas valiosas
Manter o entusiasmo: Ιoannis observa que muitas pessoas começam a aprender uma língua com muito entusiasmo, mas depois desistem. Para ele, é preciso “se apaixonar pela cultura”.

Viajar é um estímulo: Saber que vai visitar um país serve de estímulo para estudar.
“Eu também tenho a sorte de viajar muito. Para cada país que viajo, eu procuro aprender o dialeto deles, o vocabulário próprio para falar como eles. Eu aproveitei 10 dias de folga na Páscoa para visitar Hong Kong. Eu posso falar mandarim, mas não falo o cantonês. Passei a estudar um pouco, não de maneira muito séria, para poder começar conversações também em cantonês. Hoje eu posso falar uma espécie de ‘portunhol’, um mandarim à cantonês”, afirmou.