Concordância verbal em português: Principais regras e exceções para não errar mais

Poucos pontos da gramática do português geram tantas dúvidas quanto a concordância verbal. Saber conjugar corretamente os verbos de acordo com o sujeito não é apenas uma questão de norma culta, mas também um aspecto essencial da clareza e da credibilidade na comunicação. Erros de concordância podem comprometer um texto acadêmico, prejudicar a compreensão de uma mensagem profissional e até afetar a imagem pessoal em situações formais.

Embora a regra geral pareça simples, o verbo deve concordar em número e pessoa com o sujeito, a prática mostra que a realidade é muito mais complexa. Existem exceções, construções que permitem dupla concordância e casos que confundem até mesmo falantes nativos. Entender essas regras e exceções não é apenas útil para quem está aprendendo português como segunda língua, mas também indispensável para estudantes, profissionais e qualquer pessoa que deseje se expressar com precisão.

Neste artigo, você encontrará um guia completo e aprofundado sobre as principais regras da concordância verbal, bem como as situações que mais costumam gerar dúvidas. O objetivo é fornecer uma explicação clara, acessível e prática, mas sem abrir mão do rigor linguístico necessário para compreender o tema de forma definitiva.

A base da concordância verbal: sujeito e verbo

Para compreender a concordância verbal, é essencial retomar um ponto fundamental da estrutura da língua portuguesa: a relação entre sujeito e verbo. O sujeito é o termo da oração que indica quem realiza a ação ou de quem se declara algo. O verbo, por sua vez, flexiona-se em pessoa (primeira, segunda ou terceira) e número (singular ou plural) para se adequar ao sujeito.

A regra central pode ser resumida assim:

  • Se o sujeito está no singular, o verbo deve ser usado no singular.
  • Se o sujeito está no plural, o verbo deve ser usado no plural.

Exemplos básicos ilustram bem essa lógica:

  • A professora explica a matéria com clareza. (sujeito no singular, verbo no singular)
  • Os alunos explicam a matéria com clareza. (sujeito no plural, verbo no plural)

Essa base parece simples, mas torna-se mais complexa quando entram em jogo elementos como sujeito composto, indeterminado ou casos em que o verbo está distante do sujeito. É nesses pontos que surgem os maiores desafios e onde se concentram as principais exceções.

Concordância com sujeito composto

O sujeito composto, formado por dois ou mais núcleos, costuma gerar dúvidas. A regra geral estabelece que, quando o sujeito é composto e está antes do verbo, este deve ir para o plural.

Exemplo:

  • O professor e os alunos chegaram cedo.

Contudo, se o sujeito composto vem depois do verbo, a concordância pode variar. O verbo pode ir para o plural ou concordar apenas com o núcleo mais próximo, prática aceita pela gramática normativa.

Exemplo:

  • Chegaram o professor e os alunos.
  • Chegou o professor e os alunos.

Essa flexibilidade, conhecida como “concordância atrativa”, costuma aparecer com frequência em textos literários e em registros formais, mas deve ser usada com cautela em contextos acadêmicos e profissionais, onde a preferência geralmente recai sobre o verbo no plural.

Casos de sujeito com palavras sinônimas ou gradativas

Há situações em que o sujeito composto é formado por palavras que têm sentido equivalente ou estabelecem uma gradação. Nesse caso, é aceitável que o verbo permaneça no singular, destacando a ideia de unidade de sentido.

Exemplo:

  • A paz e a tranquilidade reina na casa.
  • O medo, a angústia e a insegurança dominava o ambiente.

Embora também seja possível flexionar o verbo no plural (reinam, dominavam), o uso no singular enfatiza a ideia de que os termos compõem um conjunto.

Sujeito simples com núcleos coletivos ou expressões partitivas

Os substantivos coletivos (como grupo, multidão, enxame) e as expressões partitivas (como a maioria de, parte de, metade de) também representam um ponto de dúvida frequente.

Com substantivos coletivos, a concordância depende do foco:

  • A multidão aplaudiu o espetáculo. (enfatiza-se o coletivo como unidade)
  • A multidão aplaudiram o espetáculo. (enfatiza-se a ação dos indivíduos que compõem a multidão)

Com expressões partitivas, o verbo pode concordar tanto com o núcleo da expressão quanto com o complemento.

  • A maioria dos alunos passou na prova.
  • A maioria dos alunos passaram na prova.

As duas formas são aceitas, mas a primeira é preferida em registros formais, por considerar o núcleo do sujeito (maioria) como determinante.

Concordância com expressões de quantidade

Outro desafio surge com expressões que indicam quantidade, como mais de um, menos de dois, cerca de, entre outras.

No caso de mais de um, a norma estabelece que o verbo deve ficar no singular:

  • Mais de um estudante faltou à aula.

Mas existe uma exceção: se a expressão mais de um vier acompanhada de verbos que indiquem reciprocidade, o plural passa a ser possível.

  • Mais de um candidato se agrediram durante o debate.

Já com expressões como cerca de ou aproximadamente, a concordância segue o número apresentado:

  • Cerca de vinte pessoas compareceram à reunião.

Sujeito indeterminado e orações sem sujeito

A concordância verbal também precisa lidar com situações em que o sujeito não está claramente definido ou simplesmente não existe.

Quando o sujeito é indeterminado, a concordância segue regras específicas:

  • Com o verbo na terceira pessoa do plural: Dizem que vai chover amanhã.
  • Com o verbo na terceira pessoa do singular acompanhado do pronome se: Vive-se bem nesta cidade.

Já em casos de orações sem sujeito, os verbos permanecem sempre na terceira pessoa do singular. Isso ocorre com fenômenos naturais ou expressões de tempo.

  • Choveu muito durante a noite.
  • Havia muitos estudantes na biblioteca.

Concordância com pronomes de tratamento

Os pronomes de tratamento também geram dúvidas recorrentes. Embora se refiram à segunda pessoa, eles exigem que o verbo seja conjugado na terceira pessoa.

Exemplo:

  • Vossa Excelência decidirá a questão.
  • Você entende bem a matéria.

Vale destacar que, no caso de vós, hoje pouco usado no português brasileiro, o verbo deve ser flexionado na segunda pessoa do plural: Vós estudais com afinco.

Concordância com a palavra “que” como sujeito

O pronome relativo que pode desempenhar a função de sujeito, e nesse caso, o verbo deve concordar com o antecedente do pronome.

Exemplo:

  • Fui eu que fiz o trabalho.
  • Fomos nós que fizemos o trabalho.

Esse tipo de construção é importante porque revela a necessidade de observar não apenas o termo imediato ao verbo, mas também a palavra a que o pronome está se referindo.

Concordância atrativa e silepse

A chamada concordância atrativa, já mencionada, ocorre quando o verbo concorda com o núcleo mais próximo do sujeito composto. Já a silepse é um fenômeno diferente, em que a concordância se faz com a ideia implícita, e não com a forma gramatical do sujeito.

Exemplo de silepse de número:

  • O povo brasileiro somos fortes.

Exemplo de silepse de pessoa:

  • Os brasileiros sempre fomos apaixonados por futebol.

A silepse é frequente em discursos e textos literários, mas deve ser usada com cautela em registros formais.

Casos especiais e polêmicos da concordância verbal

Apesar de existirem regras gerais bem definidas, alguns casos de concordância verbal são considerados polêmicos justamente porque apresentam mais de uma possibilidade aceita. Muitas vezes, o que determina a escolha é o nível de formalidade do texto, a intenção comunicativa ou até mesmo a tradição de uso em determinados contextos.

Um exemplo clássico está na concordância com expressões do tipo um ou outro. A norma prevê que o verbo permaneça no singular, já que a ideia transmitida é de alternância:

  • Um ou outro aluno compareceu à reunião.

No entanto, é comum encontrarmos a forma no plural quando se deseja enfatizar a possibilidade de mais de um elemento estar envolvido:

  • Um ou outro aluno compareceram à reunião.

Outro ponto polêmico está na concordância com pronomes relativos como quem. A regra tradicional manda que o verbo vá para a terceira pessoa do singular, mas também é aceitável flexioná-lo de acordo com o antecedente:

  • Fui eu quem fiz o relatório.
  • Fui eu quem fez o relatório.

Ambas as construções são aceitas, embora a primeira seja mais valorizada em contextos formais, por manter a lógica da referência ao sujeito.

Concordância em construções com porcentagem, numerais e pronomes indefinidos

Porcentagem

As construções com porcentagem estão entre as mais recorrentes em textos jornalísticos, acadêmicos e profissionais. Nesses casos, a concordância verbal pode variar de acordo com o substantivo que acompanha a porcentagem.

  • Quando a porcentagem vem acompanhada de substantivo no singular, o verbo pode ir para o singular ou para o plural:
    Cinquenta por cento do eleitorado votou/votaram em branco.
  • Quando o substantivo está no plural, a preferência é pelo verbo no plural:
    Vinte por cento dos alunos faltaram à prova.

Numerais

Os numerais também influenciam a concordância. Com numerais cardinais, o verbo normalmente acompanha o número:

  • Dois alunos chegaram atrasados.
  • Onze pessoas estavam presentes.

Com o numeral um, o verbo permanece no singular, a não ser que se trate da expressão um e outro, que pode admitir o plural:

  • Um aluno apresentou o trabalho.
  • Um e outro aluno participaram/participou da discussão.

Pronomes indefinidos

Os pronomes indefinidos, como alguém, ninguém, tudo e cada um, geralmente exigem o verbo no singular:

  • Alguém deixou o celular na sala.
  • Ninguém sabia a resposta correta.

Já pronomes como alguns, muitos, poucos e tantos pedem o verbo no plural:

  • Alguns estudantes trouxeram dúvidas.
  • Muitos participaram da pesquisa.

Regras sobre verbos impessoais e locuções verbais

Os verbos impessoais representam um capítulo à parte na concordância verbal. São aqueles que não admitem sujeito, como haver (quando indica existência ou tempo decorrido), fazer (quando indica tempo ou fenômeno climático) e ser em certas expressões de tempo.

Nesses casos, a norma é clara: o verbo deve permanecer na terceira pessoa do singular.

  • Havia muitas pessoas na sala. (nunca haviam)
  • Faz dois anos que viajei ao exterior.
  • Era uma hora da manhã quando chegamos.

Nas locuções verbais, a regra é observar o verbo auxiliar, que deve concordar com o sujeito da oração. O verbo principal, por estar no infinitivo, particípio ou gerúndio, não sofre alteração.

Exemplo:

  • Os alunos tinham estudado bastante.
  • O professor vai explicar a matéria.

Quando o verbo impessoal aparece em uma locução, a impessoalidade deve ser mantida.

  • Deve haver soluções para o problema. (o verbo haver não vai para o plural)

Situações de dupla concordância permitida e usos recomendados

A língua portuguesa, por sua flexibilidade, admite em vários casos dupla concordância, sendo ambas corretas. A escolha depende do registro do texto ou da ênfase desejada.

Um bom exemplo é o uso de expressões partitivas, como vimos na Parte 1. Tanto A maioria dos alunos passou quanto A maioria dos alunos passaram são aceitas. A diferença está no foco: a primeira destaca o coletivo, enquanto a segunda enfatiza os indivíduos.

Outro caso comum é com construções no estilo um dos que. Aqui, o verbo pode concordar com o termo um (singular) ou com os que (plural).

  • Ele é um dos alunos que mais participa.
  • Ele é um dos alunos que mais participam.

Ambas as formas são corretas, mas em textos acadêmicos e científicos costuma-se preferir o plural, por concordar com o núcleo mais próximo.

Também nas construções com mais de um, como já citado, existe a possibilidade de concordância no plural quando o verbo expressa reciprocidade. Essa flexibilidade mostra que, além da regra normativa, o falante deve considerar a clareza e a naturalidade do enunciado.

Conclusão

O estudo da concordância verbal pode parecer um campo minado de exceções e polêmicas, mas, ao compreender as regras principais e as situações especiais, o falante ganha segurança para escrever e falar com clareza.

Algumas dicas práticas ajudam a evitar erros recorrentes:

  1. Identifique o sujeito antes de conjugar o verbo. Essa simples prática evita confusões, sobretudo em frases longas.
  2. Prefira a forma no singular em contextos de dúvida. A norma culta costuma aceitar o singular em casos polêmicos, o que garante mais segurança em textos formais.
  3. Atenção aos verbos impessoais. Nunca flexione o verbo haver com sentido de existir, nem o verbo fazer indicando tempo.
  4. Observe a distância entre sujeito e verbo. Quando o sujeito está distante, há maior chance de erro de concordância.
  5. Leia em voz alta. Muitas vezes, a leitura oral ajuda a perceber incoerências de número e pessoa.

A concordância verbal, longe de ser apenas uma obrigação gramatical, é uma ferramenta de clareza e autoridade no discurso. Dominar suas regras e reconhecer as exceções permite que o estudante e o profissional se comuniquem de maneira mais precisa, elegante e convincente, fortalecendo tanto a expressão escrita quanto a oral.

Leia também: Diferença entre por que, por quê, porque e porquê: Guia definitivo para não errar nunca

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