Erros comuns em português: Os deslizes que estrangeiros mais cometem ao aprender a língua

Aprender português pode ser uma experiência fascinante e ao mesmo tempo desafiadora. Estrangeiros que decidem se aventurar nesse idioma encontram uma língua rica em sons, com uma gramática cheia de nuances e uma musicalidade que encanta quem ouve. Porém, ao longo desse processo de aprendizado, é natural que surjam alguns tropeços recorrentes, desde confusões gramaticais até dificuldades de pronúncia que podem comprometer a clareza da comunicação. Entender os erros mais comuns em português não apenas ajuda a evitá-los, mas também acelera o progresso de quem deseja alcançar uma fluência sólida.

Neste artigo, você vai conhecer em profundidade os principais deslizes cometidos por falantes não nativos de português. Vamos analisar desde os equívocos de vocabulário e pronúncia até questões mais sutis, como o uso de tempos verbais e preposições. Mais do que simplesmente listar os erros, o objetivo é mostrar por que eles acontecem e como superá-los, sempre com exemplos claros e aplicáveis ao cotidiano.

Por que estrangeiros encontram tantas dificuldades no português?

O português ocupa um lugar peculiar entre os idiomas globais. Embora seja uma língua latina, assim como o espanhol, o francês e o italiano, apresenta características próprias que podem confundir mesmo quem já domina outras línguas românicas. Para muitos estrangeiros, o primeiro contato com o português é marcado por uma falsa sensação de familiaridade, principalmente para falantes de espanhol e italiano. Eles acreditam que, por haver tantas semelhanças de vocabulário, a comunicação será simples. No entanto, justamente essa proximidade leva a armadilhas: palavras que parecem iguais, mas têm significados diferentes, estruturas gramaticais que seguem lógicas distintas e sons que simplesmente não existem em outros idiomas.

Além disso, o português conta com um sistema verbal considerado um dos mais complexos entre as línguas europeias, o que exige bastante atenção do estudante. O uso de pronomes, a flexão de gênero e número, e as múltiplas formas de expressar o passado são fontes constantes de dúvida. Somando a isso a pronúncia, com vogais abertas e fechadas, nasalizações e encontros consonantais, temos um cenário perfeito para que surjam deslizes frequentes.

Os deslizes fonéticos: quando o som atrapalha a compreensão

Entre os erros comuns em português, a pronúncia ocupa o primeiro lugar. A riqueza sonora do idioma pode ser um verdadeiro obstáculo. Muitos estrangeiros têm dificuldade em distinguir e reproduzir os sons das vogais abertas e fechadas, como em avó e avô, que em português indicam parentes diferentes (a avó materna ou paterna versus o avô).

Outro ponto delicado são os sons nasais. Palavras como pão, mão e coração exigem uma nasalização que raramente existe em outras línguas, fazendo com que muitos estrangeiros pronunciem as palavras de forma “plana”, sem o som característico do português. Esse detalhe pode até não impedir a comunicação, mas afeta a naturalidade e a clareza da fala.

O famoso “r” do português também é motivo de tropeços. Em regiões como o Rio de Janeiro, o “r” inicial de palavras como rua se aproxima de um som gutural, semelhante ao do francês. Já em outras partes do Brasil, a pronúncia tende a ser mais suave. Estrangeiros frequentemente se perdem entre essas variações e acabam adaptando o som ao que existe em sua língua nativa, o que gera estranhamento para os ouvintes brasileiros.

O labirinto das preposições

Se há um campo em que estrangeiros se confundem diariamente, esse campo é o das preposições. O português utiliza preposições em contextos específicos que não seguem a mesma lógica de outras línguas. Expressões como gostar de ou assistir a são exemplos clássicos. Para um falante de inglês, por exemplo, é natural dizer “I like music” sem precisar de preposição. Já em português, é incorreto falar “eu gosto música”; a forma correta é “eu gosto de música”.

Outro caso frequente está em assistir. Muitos estudantes dizem “assistir um filme”, porque em suas línguas não há essa exigência. Mas a norma culta pede “assistir a um filme”. Embora na fala cotidiana muitos brasileiros acabem omitindo a preposição, em situações formais ou na escrita ela é indispensável.

Esses detalhes tornam-se ainda mais confusos quando lembramos das contrações. Estrangeiros se perdem facilmente em formas como do, da, nela, dele. Esse encadeamento sonoro e gramatical exige treino constante para que o uso correto se torne automático.

O peso da conjugação verbal

Talvez nenhum aspecto do português seja tão temido quanto a conjugação verbal. O idioma oferece uma grande variedade de tempos, modos e pessoas gramaticais, muito além do que muitos estrangeiros estão acostumados. Para falantes de inglês, por exemplo, acostumados a conjugar apenas algumas formas básicas, lidar com a diversidade de terminações em português é assustador.

Um erro recorrente é a tendência de simplificar demais. Muitos estudantes, no início, usam sempre o infinitivo do verbo, como em “eu comer”, “ela falar”, “nós estudar”. Isso pode até transmitir a ideia principal, mas revela imaturidade linguística e causa ruído na comunicação. Outro deslize típico é a confusão entre o presente e o passado. Estrangeiros frequentemente dizem “ontem eu vou ao mercado” em vez de “ontem eu fui ao mercado”, mostrando dificuldade em adaptar os verbos de acordo com o tempo da ação.

A variação entre português do Brasil e de Portugal também adiciona complexidade. Enquanto no Brasil é comum usar “você” acompanhado de verbos na terceira pessoa, em Portugal ainda se usa “tu” com a conjugação correspondente. Isso leva estudantes a misturarem as formas e criarem frases híbridas como “tu fala” ou “você estudas”, que soam incorretas em qualquer contexto.

A armadilha dos falsos cognatos

Os falsos cognatos são responsáveis por situações embaraçosas que, muitas vezes, rendem boas risadas, mas que revelam uma dificuldade real. Por serem línguas próximas, o português e o espanhol compartilham milhares de palavras idênticas ou muito semelhantes. Porém, em diversos casos, o significado é completamente diferente.

Um exemplo clássico é a palavra embarazada em espanhol, que significa “grávida”. Muitos hispanofalantes, ao tentar falar português, dizem “estou embaraçada” acreditando que significa o mesmo. No entanto, em português, “embaraçada” quer dizer “confusa” ou “envergonhada”. Outro caso é pasta, que em espanhol pode significar “massa de papel” ou “dinheiro”, mas em português refere-se principalmente ao alimento feito de farinha.

Esses deslizes são compreensíveis, mas podem causar mal-entendidos sérios em contextos profissionais ou acadêmicos. Por isso, é fundamental que estrangeiros dediquem atenção especial às palavras aparentemente familiares, mas que escondem armadilhas semânticas.

A influência da entonação e da prosódia no português

Aprender o vocabulário e a gramática de uma língua já é desafiador, mas quando falamos de fluência real, a entonação e a prosódia se tornam fatores determinantes. No caso do português, a melodia da fala exerce papel crucial para que a mensagem seja interpretada corretamente. Estrangeiros, no entanto, tendem a transferir os padrões de entonação de sua língua materna, o que pode gerar frases estranhas, mesmo quando gramaticalmente corretas.

Um exemplo clássico ocorre nas perguntas. Em português brasileiro, geralmente elevamos a entonação no final da frase interrogativa, como em “Você vai à festa?”. Já em português europeu, a melodia é mais neutra, sem a subida tão evidente. Estrangeiros que mantêm a entonação do espanhol ou do inglês, por exemplo, podem soar artificiais, dificultando a naturalidade da comunicação.

Outro aspecto é a prosódia, ou seja, o ritmo e a distribuição das sílabas. O português tem um padrão silábico distinto, em que a tonicidade (a sílaba forte da palavra) desempenha papel essencial. Um estrangeiro que não respeita essa tonicidade pode mudar o significado do que diz. Por exemplo, em “sábia” (mulher com sabedoria) e “sabia” (forma verbal de saber), a posição da tônica altera totalmente a interpretação. Esse tipo de erro pode confundir ouvintes e gerar ruídos na compreensão.

Erros comuns no uso de pronomes

Se existe um campo em que muitos estudantes tropeçam é no uso dos pronomes em português. Por se tratar de uma língua com diferentes níveis de formalidade e com pronomes que variam conforme a região, não é raro que estrangeiros se embaralhem nesse ponto.

Um dos erros mais frequentes é a mistura entre você e tu. No Brasil, em grande parte do território, “você” é a forma predominante, acompanhada da conjugação verbal na terceira pessoa. No entanto, em algumas regiões do sul e do norte, ainda se usa “tu”, conjugado na segunda pessoa. O problema surge quando o estudante mistura os dois sistemas, criando construções incorretas como “tu vai” ou “você estudas”.

Outro obstáculo está nos pronomes oblíquos (me, te, se, lhe, nos, vos). Muitos estrangeiros os omitem por desconhecimento ou tentam usá-los da mesma forma que em sua língua nativa. É comum ouvir frases como “ele viu eu” em vez de “ele me viu”. Além disso, a posição do pronome também confunde, já que no português europeu a ênclise (“viu-me”) ainda é bastante utilizada, enquanto no Brasil a próclise (“me viu”) predomina.

Há também a questão dos pronomes de tratamento, como senhor e senhora. Estrangeiros muitas vezes não compreendem que essas formas indicam respeito e formalidade, diferentes do uso de você. Isso pode levar a situações constrangedoras, principalmente em contextos profissionais, quando se espera uma linguagem mais formal.

Português formal versus coloquial: a fonte de confusões

O português tem uma característica peculiar que muitas vezes causa espanto em estrangeiros: a diferença marcante entre o que se aprende nos livros de gramática e o que se ouve nas ruas. Essa distância entre o português formal e o coloquial é fonte de inúmeros equívocos.

Nos cursos e materiais didáticos, é comum que os estudantes aprendam frases estruturadas segundo a norma culta, como “Não sei de que você está falando”. No dia a dia, porém, é muito mais frequente ouvir construções reduzidas como “Não sei do que você tá falando” ou até “Não sei o que cê tá falando”. Para quem estuda, esse choque pode ser desorientador, já que a frase da rua parece “errada” em relação ao que foi aprendido na sala de aula.

Outro exemplo é o uso dos tempos verbais. Enquanto a norma culta recomenda construções como “quando eu chegar, ligarei para você”, no português coloquial brasileiro, frases como “quando eu chegar, eu te ligo” são perfeitamente aceitáveis e até preferidas. Estrangeiros, ao tentarem aplicar apenas a versão formal, soam excessivamente rígidos, como se estivessem lendo um livro em voz alta.

Essa diferença entre norma e uso real exige que o estudante aprenda a transitar entre os dois registros. Ignorar a linguagem coloquial pode levar à dificuldade de compreensão em conversas cotidianas, enquanto desconhecer a norma culta compromete a comunicação em ambientes acadêmicos ou profissionais.

Estratégias práticas para corrigir e superar esses deslizes

Saber quais são os erros comuns em português é apenas o primeiro passo. O mais importante é ter estratégias eficazes para corrigi-los. Felizmente, existem recursos práticos que ajudam estrangeiros a avançar mais rápido rumo à fluência.

A primeira estratégia é treinar a escuta de diferentes sotaques. O português falado em Lisboa não soa igual ao de São Paulo, e este, por sua vez, é bem diferente do de Recife ou Porto Alegre. Ao se expor a podcasts, músicas, vídeos e filmes de diversas regiões, o estudante desenvolve uma percepção mais aguçada dos sons e entonações, reduzindo a chance de cometer erros de prosódia e pronúncia.

Em segundo lugar, é fundamental praticar a produção oral desde o início, mesmo com erros. Muitos estrangeiros esperam dominar a gramática antes de falar, mas essa abordagem retarda o aprendizado. O ideal é praticar conversas curtas, usar aplicativos de troca linguística e até gravar a própria voz para se ouvir e corrigir.

Outra estratégia poderosa é manter um diário de erros. Cada vez que o estudante identificar um deslize, seja em preposições, conjugação verbal ou pronúncia, deve anotá-lo junto com a forma correta. Revisitar essas anotações cria consciência linguística e ajuda a consolidar os acertos.

Além disso, o uso de materiais didáticos complementares, como e-books especializados em erros comuns de estrangeiros, acelera a correção. Esses recursos trazem explicações contextualizadas que vão além das regras gramaticais, mostrando como os brasileiros realmente falam.

Conclusão

Aprender português é um desafio fascinante que vai muito além de decorar regras ou memorizar palavras isoladas. Os erros mais comuns cometidos por estrangeiros revelam justamente os pontos em que o idioma exige maior atenção: a pronúncia nasal e as diferenças de entonação, o uso das preposições e dos pronomes, a conjugação verbal extensa e a distância entre norma culta e linguagem coloquial. Todos esses fatores podem parecer barreiras intransponíveis no início, mas na prática são oportunidades de crescimento linguístico.

A chave para superar esses obstáculos está em praticar de forma consciente, ouvir diferentes variações da língua, arriscar-se a falar sem medo e adotar estratégias inteligentes de correção. Cada deslize corrigido representa um passo em direção à fluência natural e confiante.

Seja você um iniciante curioso, um autodidata determinado ou um estudante intermediário em busca de mais naturalidade, o importante é entender que errar faz parte do processo. Mais do que evitar os erros, é preciso usá-los como aliados no caminho do aprendizado. O português, com toda a sua riqueza cultural e expressiva, recompensa aqueles que persistem, oferecendo não apenas a chance de se comunicar, mas também de se conectar profundamente com milhões de falantes ao redor do mundo.

Leia também: Quando usar crase no português: Regras e exemplos práticos para dominar a escrita

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